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O complexo de avestruz e a crise climática

-Regina Helena Piccolo Cardia -


A cada dia sentimos os efeitos da mudança climática mais perto de todos nós. São ciclones, tornados, vendavais, enchentes, tempestades, granizos colossais, deslizamentos de terra, quedas de árvores, calor infernal etc. Entretanto, o tempo passa e nada parece mudar para conter, mitigar ou solucionar as causas e as consequências dos eventos climáticos extremos.


É como se um complexo de avestruz se abatesse sobre a humanidade, impedindo a visão da catástrofe planetária, que se avizinha, e a reação a ela.


Pesquisando sobre isso, constatei que a expressão é estudada cientificamente como síndrome de avestruz, cunhada pelo pesquisador Joaquim Santini, embora restrita ao ambiente laboral; caracteriza-se como fuga para evitar situações desconfortáveis ou ameaçadoras.


Essa paralisia pode estar ligada a vários aspectos psíquicos, dentre eles o medo, a desconexão com a realidade, a negação, a fantasia de que a ameaça ou o desconforto sumam milagrosamente. Da mesma forma, o pessimismo, que encontra respaldo em crescentes correntes doutrinárias, nominadas ecopessimismo, ecoansiedade, ecofadiga ou solastagia.


O termo solastalgia vem do latim solacium (consolo, alívio) e o sufixo algia do grego, relaciona-se a dor. Concebido pelo filósofo Glenn Albrecht, nos anos 2000, pretende descrever o “angustiante desconforto mental causado pela vivência contínua de mudanças ambientais negativas”[1].


O psicólogo e psicanalista Henry Krutzen, na obra Ecopsicanálise [2], correlaciona ecoansiedade e ecoluto, que podem redundar em ação, mas também em formas graves de transtornos mentais, como a depressão e o burnout. Baseado em Panu Pihkala, o autor apresenta vários métodos de enfrentamento e de adaptação para reagir ao looping infinito a que a ecoansiedade e o ecoluto podem levar, perpassando pelas fases de distanciamento, paralisia e apatia, culminando no despertar.


Segundo Krutzen, o despertar pode trazer consequências como o choque emocional, derivando em traumas e transtornos psicológicos, mas também pode levar à ação.



Neste ponto, o despertar pode levar-nos a retirar a cabeça do buraco e olhar no horizonte, a fim de possibilitar a ação transformadora e reconciliadora com a natureza, abrir a consciência para o colapso decorrente de irracionalidade econômica e política, buscar impor limites ao crescimento (vulgo progresso), adotar a felicidade e bem estar como medida de riqueza de um povo.


O cenário de crise climática é também uma oportunidade, por ser um momento crucial de perigo (weiji). A origem da palavra crise (crisis, latim; krisis, grego) traz justamente essa ideia de momento decisivo, originalmente empregada pela medicina (Hipócrates) para expressar o momento da evolução da doença, culminando na morte ou na cura (vida).


Vivemos um momento crítico inegável, próximo do ponto de inflexão, o que nos cabe é levantar a cabeça e despertar para a ação.


Referências:


[1] Disponível em: https://academiadopsicologo.com.br/. Acesso em: 03/02/25.


[2] KRUTZEN, Henry. Ecopsicanálise: Uma ética melancólica de uma ecologia escura. São Paulo: Zagodoni, 2023.


 

Regina Helena Piccolo Cardia - DPO da SABESP, Advogada, Professora, Mestre PUCSP, Esp. Direito Ambiental USP, MBA Gestão Empresarial FIA, Rel.TED OAB/SP, ex-Coord Comissão de Ética e associada do IBAP.





1 Comment


Lozzie
Lozzie
Feb 10

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