LIRA PAULISTANA, UM ESPAÇO DE VANGUARDA DAS ARTES
- Revista Pub
- há 1 dia
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-RUI VIANNA-
O Teatro Lira Paulistana nasceu como um espaço de efervescência e resistência, trazendo em seu DNA a característica de vanguarda, de abrir o palco para várias manifestações da arte marginal, inédita e inovadora do cenário, principalmente, musical do final da década de 1970.
Estava localizado à Rua Teodoro Sampaio, 1091, em frente à Praça Benedito Calixto, em Pinheiros - São Paulo. Era um porão, com o palco e as cadeiras da audiência situados abaixo no nível da rua. Não era de grandes proporções, mas a repercussão de suas performances foi estrondosa.

Por ali passaram vários artistas do que seria conhecido como a Vanguarda Paulista, entre eles Grupo Rumo (trazendo a frente Luis Tatit), Arrigo Barnabé e Banda Sabor de Veneno, Língua de Trapo (com a atriz Marisa Orth de vocalista), os multi-talentosos Premeditando o Breque, Itamar Assumpção e a Banda Isca de Polícia, Ná Ozetti, Titãs (sim, antes de virar sucesso eles tinham se apresentado lá), Hermelino e o Santos Futebol Music... A lista é grande e revela a vocação do Lira, como era chamado carinhosamente por seus frequentadores (entre eles, eu), de ser o cartão de visitas da vanguarda artística paulistana no curto período em que manteve suas portas abertas.
Mas o Lira Paulistana não se ateve ao cenário musical, tendo sido palco para várias mnifestações culturais e políticas deste período de transição da ditadura militar para a Nova República, que incluiu participação ativa no movimento popular das Diretas Já.
Além do espaço físico, o Lira Paulistana se imortalizou através de um selo fonográfico, do mesmo nome, que produziu e lançou diversos títulos :
Beleléu, Leléu, Eu. Itamar Assumpção, 1980.
Às Próprias Custas S/A. Itamar Assumpção, 1981.
Summertime. Cida Moreira, 1981* [10]
Língua de Trapo. Língua de Trapo, 1982.
Poema da Gota Serena. Zé Eduardo Nazário, 1982
Cabelos de Sansão. Tiago Araripe, 1982
Chora Viola, Canta Coração. Grupo Paranga, 1982
Pau Brasil. Grupo Pau Brasil, 1983
Abolerado Blues. Cida Moreira, 1983**
Quase Lindo. Premeditando o Breque, 1983**
Freelarmônica. Freelarmônica, 1983**
Como Essa Mulher. Hermelino e a Football Music, 1984
Algumas curiosidades sobre o Teatro, que merecem ser do conhecimento de todos:
Entre os fundadores do Lira, estão Humberto Gessinger, (pai do Humberto Gessinger dos Engenheiros do Hawaii, figura crucial na gestão do espaço), Castro Riba, que escreveu, anos mais tarde, em 2014, o livro "Lira Paulistana - Um delírio de Porão", Luiz Tatit (do grupo Rumo, que era a "casa band" do teatro), Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção;
Um documentário sobre o Lira foi feito por Carlos Cortez, com cenas raras dos bastidores, em 1982
Em 17 de março de 1985, os grupos de hardcore punk paulistas Cólera e Ratos de Porão, fizeram o show de lançamento do álbum de estréia do Cólera, Tente Mudar o Amanhã. Esse show ficou registrado no álbum Ao Vivo no Lira Paulistana, lançado no mesmo ano pelo selo Ataque Frontal. (Aqui alguns trechos desse show)
O público frequentador do Lira era, em si, um evento a parte. A juventude pulsante da cidade de São Paulo que ajudou a transformar o pacato bairro de Pinheiros em um reduto de descolados (e decolados) de todo tipo, em roupas coloridas e escandalosas, às vezes trapos chics, consumo de todo o tipo de substâncias, de forma harmônica e descontraída, que se espalharam pela Av. Henrique Schaumann e seus vários botecos, restaurantes e casas noturnas. Guardo lembranças ternas e boas do período.
O Lira encerrou suas atividades em 1986.
Rui Vianna é advogado aposentado e associado do IBAP.
Excelente resgate, Rui. A vanguarda paulistana — mais um rótulo de imprensa do que um movimento organizado — floresceu num contexto de abertura política e de esgotamento das fórmulas dominantes da MPB comercial. Curiosamente, muitos de seus principais nomes não eram nascidos em São Paulo: Tetê Espíndola, de Mato Grosso do Sul; Arrigo Barnabé, de Londrina; e Itamar Assumpção, de Tietê. Mas foi em São Paulo que essa constelação encontrou espaço para desenvolver uma produção estética radical, irônica, culta e tecnicamente exigente.
O ponto de partida simbólico foi o Festival Universitário da TV Cultura, de 1979, promovido sob a coordenação de Solano Ribeiro, importante agitador cultural desde os festivais da Record. Ali se destacaram composições como “Brigando na Lua” do…