top of page

39 QUILOGRAMAS DE COCAÍNA NUM DOS AVIÕES PRESIDENCIAIS

Atualizado: 5 de dez. de 2023


-RUI VIANNA-


Em conversa recente, num grupo de amigos, houve uma reação indignada com relação à viagem do ex-superministro Morro, sem que fosse feita a devida divulgação de sua agenda. Afinal, trata-se de viagem internacional de um ministro (ou quase ex) de estado, obrigação inerente ao cargo, na prestação de satisfação aos governados.


Acho a indignação mais do que justa, diria tímida. Afinal, qual das autoridades brasileiras hoje presta contas de seus atos? Quem, nesse desgoverno galopante se atém ao mínimo de moralidade administrativa? Vamos aos fatos.


Com a avalanche de atos estapafúrdios, só dos últimos dias, fica até difícil buscar por onde devemos começar. Mas, para a sequência narrativa, isso é não só necessário como também louvável. Obtemperei, não, objetei, não, falei ao meu amigo que temos uma dificuldade enorme de graduar a gravidade de tudo que vem ocorrendo. Querem ver?

Você acha mais grave o fato noticiado da não divulgação da agenda de viagem do quase ex-superministro ou o fato de generais da reserva, integrantes do desgoverno, ameaçarem a ordem constitucional, o órgão supremo da justiça brasileira (como minha amiga Elisabeth Harkot, só está dando para escrever em minúsculas), a sociedade como um todo, isso tudo de uma pernada só, sem que as forças armadas (idem) emitam sequer uma notinha, uma mísera manifestação?


Pois foi exatamente o que aconteceu. Quando o general Heleno, em surto apoplético já folclórico, pregou “prisão perpétua” para Lula, esmurrando a mesa onde estavam vários integrantes da quadrilha, ops, escusas pelo ato falho, do governo, qual foi a reação das “instituições”? Qual foi a reação da arma (exército) ao qual o referido general da reserva já pertenceu?


Nos dias que antecederam ao recente julgamento de Lula no supremo, declarações militares davam conta de que não iriam tolerar que o ex-presidente fosse libertado. Igualzinho ao ocorrido em novembro de 2018. Reação? Zero. Nem aquela mísera notinha.


Devemos lembrar do exemplo do Chile, onde o presidente, um conservador alinhado à direita, mandou prender o general Juan Emilio Cheyre (cheire? hum...), em 07.02.19 pela revelação de tortura. Ou do Uruguai, onde o presidente Tabaré Vázquez mandou prender nada mais nada menos do que o Comandante em Chefe do Exército uruguaio, o general Guido Manini Rios, em setembro de 2018. E isso por reclamar da reforma da pensão dos militares!


Se isso não acontece aqui, e não acontecerá, é por que as “instituições” estão apodrecidas, inertes, totalmente comprometidas com a “nova era” da “nova política”.


Podemos ainda questionar se o fato do próprio “presidente” avocar para si atribuição definida em lei, de forma totalmente arbitrária, ilegal, irresponsável, não seria grave o suficiente para que o mesmo fosse afastado do cargo. “Quem faz a demarcação de terras indígenas sou eu!” Quem ele pensa que é? O senado entendeu que não, não era ele e sim a FUNAI. Menos mal, alguma coisa ainda resta de legalidade no país.


Porém, na sequência de fatos sequelantes, entendo não haver nada mais grave do que a revelação da polícia espanhola, que apreendeu 39 quilos de cocaína com um dos integrantes da comitiva do presidente, um sargento da aeronáutica.

Dá para se ter uma noção do que isso significa? Some-se a essa notícia aquela da apreensão dos 117 fuzis, encontrados em casa de um amigo de um dos acusados pela morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, Ronie Lessa, e ao fato de que esse mesmo indivíduo morava no mesmo condomínio de Bolso, e o que teremos? Estaria o presidente cercado de pessoas envolvidas com o tráfico de armas e drogas?

Ah, objetariam os mais apressados, mas nada liga o presidente a essas pessoas! Não mesmo? Como que uma das pessoas mais procuradas do Brasil, tanto pela polícia federal quanto pela polícia civil do Rio de Janeiro, morava no mesmo condomínio dele? Como que um integrante da comitiva presidencial, em viagem oficial ao exterior, trazia consigo essa quantidade escandalosa de drogas, para embarcar em aeronave oficial da Força Aérea Brasileira?


Questionem-se. Se uma pessoa, de razoável senso comum, decidisse realizar tráfico de drogas, qual seria o último lugar onde ela imaginaria estar? Não seria, por acaso, em uma comitiva presidencial? Um lugar extremamente visado, um evento com exposição descomunal na mídia, medidas de segurança reforçadas e ostensivas? Ou, por paradoxo total, não seria este o lugar mais seguro do mundo para realizá-lo, dado o fato de que você, traficante, se sentiria total e completamente protegido e seguro?


Conforme reportagem, a polícia espanhola teria afirmado que: "...a detecção da droga e a posterior prisão do militar ocorreram quando os membros da tripulação e suas bagagens passaram pelo controle alfandegário obrigatório após a chegada a Sevilha. Ao abrir a mala de mão os agentes encontraram 37 tijolos de pouco mais de um quilo cada. 'Não estava nem mesmo escondido entre as roupas', disseram fontes da Guarda. As autoridades da Espanha agora querem saber qual era o destino final da droga." Ou seja, os trinta e sete tijolos de cocaína (ainda segundo a reportagem), não estavam sequer escondidos. Total sensação de impunidade e segurança.


Ah, voltariam os meus apressados defensores da barbárie, mas é impossível controlar todos os integrantes de uma comitiva presidencial! Vocês acham que não haverá quem faça essa defesa? Pois vejam a nota “oficial” do presida, publicada no Diário Oficial do Twitter, onde ele diz que, “se ficar comprovado que o militar está envolvido nesse crime”, “o mesmo será julgado e condenado na forma da lei”. Ou será que, segundo mais recente corrente jurisprudencial chancelada pelo supremo, se ele pedir desculpas será perdoado?


Será razoável que aceitemos que esse militar, integrante da comitiva do presidente, como dito e repetido, seja preso pela polícia espanhola, e não pela segurança do mandatário? E se ele, em vez de drogas, estivesse portando uma bomba, ou armas, ou veneno (seria a droga de boa procedência?), para assassinar o presidente e toda sua comitiva? Que raio de segurança é essa?


Ah, mais uma vez os obtusos defensores do indefensável diriam, mas ele não portaria uma bomba, afinal, ele era da comitiva do nosso presida! Ele é dos nossos! Sim, como se suspeita, ele é do grupo, ele é alguém do círculo interno do poder, não seria incomodado pela segurança da presidência, se duvidar ele é um integrante dela. E só estava portando 39 quilogramas de “entorpecente” (como consta da nota “oficial”).


Aí me pergunto: Por que não 40?


PS. Suprema ironia, dia 26 de junho é o dia mundial contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas, da ONU. Boa noite.

 

Rui Vianna é colunista da PUB, escreve nos dias 11 e 29 de todo mês (às vezes mais), é torcedor do Santos FC e anda absolutamente perplexo.


214 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page