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BOLONHA, MUITO ALÉM DA MORTADELA

  • Foto do escritor: Revista Pub
    Revista Pub
  • 26 de out.
  • 3 min de leitura

-Sebastião Staut-

 

                       

Com pistache, com trufas brancas, defumada, tradicional, no pão, sozinha, com queijo, na chapa... Inúmeras são as formas e meios em que podemos degustar uma boa mortadela, e eu sou dos que não dispensam a iguaria.

                       

Consta ser produto originário da província italiana de Bolonha, que em seus alfarrábios guarda tratados sobre sua preparação, venda e guarda, creiam,  datados do século XVII.

                       

Aqui em terras tupiniquins não foi menor o sucesso do embutido, sendo que em São Paulo, no Mercado Central,  comensais fazem filas imensas aos fins de semana para abocanharem um sanduíche muito bem fornido, marca registrada do lugar, ao lado do pastel de bacalhau.

                       

Tinha viagem de férias marcada este ano, entre setembro e outubro, para a Itália, e fiz questão de incluir no roteiro Bolonha, que não conhecia, embora já estivesse estado várias vezes muito perto. Uma falha no meu glossário de cidades visitadas que estava ávido para apagar, pensando naturalmente em provar o sabor de uma mortadela diretamente na origem, sem intermediários ou longas viagens, que pudessem corromper o seu celebrado paladar e sua fina textura.

                       

Pois, chegado à urbe bolonhesa, ponho-me de imediato a caminhar, sem rumo certo, pela região central, em direção às afamadas torres bolonhesas, passando pela Finestrella, pelos becos medievais, pelas ruas repletas de bares, lojas, restaurantes, galerias e gente, muita gente.

                       

A cidade cativa ao primeiro contato, aconchega.  Seus tons de ocre, a história que transpira pelo calçamento, sua arquitetura única e o fato de que, para um caminhante disposto, seja possível percorrer a pé a cidade universitária de uma das mais antigas universidades conhecidas, para depois chegar às duas torres e contemplar, numa mistura de admiração e receio, o quanto estão inclinadas (creio que hoje a Torre de Pisa perde feio em inclinação, ao menos para uma das torres de Bolonha, segundo meu amadorístico olhar). Passar pela Praça da Loja do mercado e depois seguir para o Duomo de São Petrônio e a Praça do Relógio, caminhar frente ao Teatro de Opera Comunale e descer pelo parque suspenso ao longo da avenida que leva à estação. Estes são apenas alguns dos verdadeiros tesouros que se pode encontrar andando sem roteiro prévio num dia ensolarado e não muito quente, como os que tive a fortuna de desfrutar.


E aí é que está o busílis, como diria um velho jurista. Quando a sorte sorri a um turista entusiasmado, e isso não é muito comum, é preciso aproveitar.

                       

Em minha estada de poucos dias, pude acompanhar uma multitudinária marcha popular contra o genocídio na Palestina (absurdamente seguida por helicópteros e bombas de gás), seguir para a cidade universitária e visitar, no antigo prédio da Faculdade de Medicina, o anfiteatro onde, desde o século XVI, se ministravam as aulas de anatomia, ainda em perfeito estado, seguir para o Duomo de São Petrônio, padroeiro da cidade, justamente no dia de seu jubileu, e ouvir o magnífico canto gregoriano, seguido de um animado show de música popular na Praça do Relógio.

 

Foto acervo pessoal do autor
Foto acervo pessoal do autor

                      

Almoçar tardiamente no mercado do centro, comer uns “alici” absolutamente fantásticos, acompanhados de um ótimo “bollicine”, para depois descobrir pela andança, no meio da galeria da Via de Musei, uma fantástica e enorme livraria, meio sebo, meio antiquário, meio loja, chamada Nanni, com uma das portas dedicada a uma exposição dos títulos completos de Georges Simenon. Para um fã do gênero e do autor, como eu sou, parece até pedir demais.


Mas o fato é que rolou, com direito ainda ainda a uma exposição imersiva sobre as viagens de Georges Simenon, numa galeria moderna subterrânea, na praça dos museus. Só faltava encontrar o comissário Maigret em pessoa, para tornar tudo mais delicioso e fantástico.


 Ah, já quase chegando de volta ao hotel para um merecido banho, lembrei-me dela, a mortadela. Foi então sem demora degustada em sua forma mais original, sem qualquer aditivo ou condimento extra, dentro de um pão ciabata e acompanhado de um ótimo vinho branco da casa, num bar em que a densidade demográfica interna assemelhava-se ao metrô linha vermelha da Capital de São Paulo às 17:30 de uma sexta-feira.

                       

Tudo absolutamente sensacional. Se alguém ainda pensa em olhar com desdém para Bolonha num mapa, assustado pela má fama dos vinhos “Lambrusco” que se vendem baratinho nos supermercados, esqueça, está muito enganado.

                       

Minha impressão, nesses poucos dias de “soggiorno”, é que Bolonha é o máximo.  Já estou planejando a próxima visita, sinceramente arrependido de não ter ido antes.

 


 Sebastião Vilela Staut Júnior é advogado, Procurador do Estado de São Paulo aposentado, associado do IBAP e contista/cronista acidental. Publica sua coluna mensalmente todo dia 26.



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