-GUILHERME PURVIN-
[28/4 1:44 AM] : A caminho de Varsóvia, num avião da KLM, uma mulher de seus 35 anos senta-se ao meu lado. Puxo assunto. O nome dela é Alexandra - em homenagem a Alexandra Kollontai. Pergunto de onde é o sotaque dela: Amapá. Mas, alerta depressa, mora há muitos anos em São Paulo. Trabalha numa UBS (Unidade Básica de Saúde) na Freguesia do Ó como médica celetista e está indo para Varsóvia, onde ficará por quatro dias. Depois segue Moscou, onde fará um pós doutorado em Cardiologia. Quando conto o meu trajeto, ela se anima:
_ Varsóvia, Lublin, Zamosc, Sanok, Zakopane, Poznan, Torún Gdansk, Riga, Tallinn... Lugares maravilhosos! Você deve ser jornalista!
_ Sou colunista da Revista Pub, planejo uma série de matérias sobre os países bálticos.
Alexandra diz que é leitora assídua da "Pub":
_ Gosto muito de sua linha interdisciplinar. Só mesmo a Pub para falar sobre a cultura dos povos que passaram pela experiência do socialismo.
Ao fim da viagem, trocamos cartões de visita e Alexandra diz que irá acompanhar atentamente à série de reportagens que farei.
* * *
A cena foi "ligeiramente" alterada. A passageira faz escala em Amsterdam rumo à Inglaterra, onde faz um pós doutorado sanduíche em Londres. Seu nome é Caroline, em homenagem à princesa de Mônaco. Nem imagina o que seja o Ibap, muito menos a Revista Pub. Confunde procurador do Estado com membro do Ministério Público e se espanta com a minha viagem:
_ Eu jamais me arriscaria a conhecer esses países que foram da cortina de ferro. Contam histórias terríveis sobre esses povos violentos. Além, claro, das ameaças da máfia russa. Muito cuidado ao chegar em Varsóvia, principalmente com os taxistas. Roubam e sequestram estrangeiros!
Eleitora do Alckmin, diz que votou com o nariz torcido no Haddad.
No pouso, mal conseguimos nos despedir, por conta do tumulto de sempre das pessoas querendo retirar a bagagem de mão antes do avião parar. "Fique atento com os mafiosos!"
Sigo viagem para Varsóvia num avião menor e o pouso no Międzynarodowe Lotnisko Chopina é tranquilo. Em Português, "Aeroporto Internacional Chopin", em homenagem ao mais famoso compositor polonês de todos os tempos. Tomo um táxi rumo ao meu apartamento, no centro da cidade antiga. Da mesma forma que Caroline, também ouvi histórias assustadoras sobre táxis poloneses cobrando 800 dólares por um trajeto de 30 minutos. Pergunto o preço e o motorista me garante que não será mais do que 70 zlotis (o mesmo que 70 reais). O motorista, um senhor de seus 65 anos, ajuda a descarregar a bagagem e diz o preço: 44 zlotis.
Entrego 50 e digo para ficar com o troco.
Ele agradece, desejando uma excelente viagem num inglês impecável.
Noite fria de primavera, 14 graus, turistas passeiam tranquilamente pela Praça do Mercado, onde tendas de restaurantes, a maior parte vazia, aguarda pacientemente a vinda de fregueses. Nem sinal do assédio que certamente sofreria em Paris, Veneza ou Barcelona. Num restaurante judeu a dois passos do Barbican, tomo uma sopa de beterraba e uma caneca de chopp do país e venho para o quarto, depois de 18 horas de viagem sem dormir. Dobranoc!
Guilherme Purvin é colunista voluntário da seção de turismo da Revista Pub.
Levou os escritorinhos escravizados na mala? Uma delícia de crônica.
Vou seguir.
Fez-me chegar junto à Polônia! E pensar o quanto a Caroline de Mônaco - a "original" é mais culta e crítica.
Prazer simples. Vou acompanhar
Primeiras impressões de muitas, espero. Faltou o preço do chopp!