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Quando um cadáver político vira troféu da Lava-Jato

Atualizado: 5 de dez. de 2023


O final de semana que se avizinha promete. A força-tarefa da Lava Jato acaba de prender Michel Temer e Moreira Franco. Os mandados foram expedidos por Marcelo Bretas, juiz que defende publicamente o atual governo federal e que compareceu à posse do presidente Jair Bolsonaro. Trata-se de ousadíssima tentativa de reabilitar a Lava Jato, depois de quatro derrotas seguidas, utilizando-se no caso de um espectro impopular da estirpe de Michel Temer.


O que é Temer nessa hora? Um cadáver político sem grande relevância, que já cumpriu sua função de abrir caminho para sustentar o golpe, cuidando da transição para o que seria a glória dos tucanos. Uma glória que não veio. Durante quase três anos, articulou o impeachment junto com seu aliado Eduardo Cunha, aprovou a PEC da Morte (com corte de gastos sociais por 20 anos), a terceirização, a reforma trabalhista (e quase passou a da previdência) e pavimentou a transição para a vitória e posse de Jair Bolsonaro. Neste tempo, foi intocável e, assim como seu amigo e aliado Cunha (este, preso logo após ter feito o serviço do impeachment), deixa agora de ser funcional aos novos donos do poder.


Atingir Michel Temer é também atingir o Ministro do STF Alexandre de Moraes, nomeado relator do inquérito sobre vazamentos da Lava Jato. Afinal, Alexandre de Moraes não só foi ministro do novo alvo eleito pela Lava Jato como também foi por ele nomeado para a cúpula do Poder Judiciário.


Notícias bombásticas não ocorriam ultimamente. Foram muito comuns ao longo do golpe parlamentar, da prisão de Lula e das eleições presidenciais. A última delas havia ocorrido no momento em que as pesquisas eleitorais apontavam para a arrasadora vitória do líder petista. O episódio ocorreu em 1º de outubro de 2018, quando o então juiz federal Sérgio Moro retirou o sigilo de parte do acordo de delação do ex-ministro Antonio Palocci no âmbito da Operação Lava Jato para atingir a imagem do candidato Lula.

A guerra de guerrilhas midiática, porém, não estava sepultada e retorna com toda pujança, num momento em que o ex-Juiz Federal e atual todo poderoso Ministro Sérgio Moro e a chamada "República de Curitiba" vêm sendo questionados até mesmo pela Procuradora Geral da República, Raquel Dodge.

Ao que parece, não foi suficiente o vídeo divulgado por Deltan Dallagnol no Youtube, onde abertamente pugna pelo confronto da população contra o Supremo Tribunal Federal. A “República de Curitiba” viu que seus interesses não estão sendo contrariados apenas por Gilmar Mendes e pela maioria dos ministros da corte constitucional, mas também pelo Poder Legislativo.


Por isso surge agora o nome de Moreira Franco. Dizem que referido político, governador do Estado do Rio de Janeiro entre 1987 e 1991 (antes do advento da Lei de Responsabilidade Fiscal), é daquele tipo capaz de dar nó em pingo d'água e seu nome demorava a aparecer. Ocorre que, mais do que ex-governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco é aparentado do Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, com quem Sérgio Moro passou as últimas horas batendo boca e trocando ofensas até esta manhã.


Fica claro que a intenção é atingir Maia que, ainda ontem, dia 20/03, desclassificava o projeto “anticrime” de Sérgio Moro. Irritado com as cobranças feitas para agilizar a tramitação do projeto, Maia chegou a dizer que o projeto não passava de um “recorte e cola” de trabalho feito por Alexandre de Moraes e que o super-Ministro não entende de política. É só um empregado do Bolsonaro.

Como vemos agora, essa poderosa operação continua sendo comandada por Sérgio Moro. E precisa recuperar sua imagem de justiceiro popular, especialmente após o escândalo da tentativa de criação de uma fundação que pretendia botar a mão em 2,5 bilhões de reais do malfadado acordo com a Petrobrás. Já se esperava a reação da Lava Jato.


Sérgio Moro, após a desmoralização de ser impedido de nomear alguém para um posto de segundo escalão, quer mostrar que está vivo e na disputa. Não perdeu o poder paralelo, mesmo abandonando a Magistratura Federal. A rigor, seu poder político sempre independeu de sua condição de membro do Poder Judiciário.


Nesse jogo de xadrez, o paranaense e seus parceiros entram em confronto direto com os Poderes Judiciário e Legislativo, confiantes no poder de sua rede de fãs nas redes sociais, derramando mais veneno na nossa moribunda democracia. A ideia é destruir o STF, que ousa investigar fake news sem a participação do Ministério Público. É inviabilizar qualquer resistência da Câmara dos Deputados aos desmandos da Operação Lava Jato. É tirar do foco da imprensa as atividades milicianas em curso, seus executores e admiradores.

Temer e seus asseclas devem evidentemente responder, na forma da lei, pelos crimes cometidos. Isso, contudo, não poderá servir de pretexto para a imposição de um estado de exceção com o objetivo de destruir qualquer tipo de oposição ao atual governo federal.  Com a popularidade em franco colapso, Bolsonaro começa também a ser visto como potencial carta fora do baralho, tal qual, neste momento, Michel Temer. Acirra-se uma briga pelo poder: de um lado, Moro e seus agentes da Lava Jato, de outro, o vice Mourão, sempre prestes a estimular uma intervenção militar que garanta a governabilidade. E, por fim, o próprio Bolsonaro, que em pouco tempo não terá a quem apelar além de seus próprios filhos. Cabe ao campo progressista se organizar e lutar pela defesa do Estado de Direito, pela Democracia e pelos direitos sociais, econômicos, culturais e ambientais, ameaçados pelos interesses espúrios desses grupos que dividem neste momento histórico o bolo do poder no Brasil.

 

Adriana Abelhão (Economista/SP); Elizabeth Harkot de la Taille (Professora/SP); Fernanda Cavedon (Professora/SC); Flo Menezes (Compositor/SP); Giselle Scavasin (Advogada/SP); Guilherme Purvin (Advogado/SP); Ibraim Rocha (Procurador do Estado/PA); João Alfredo Telles Melo (Advogado/CE); José Roberto Figueiredo (Geógrafo/SP); Rui Guimarães Vianna (Advogado/SP).


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