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CONTO DE FADAS

Atualizado: 13 de dez. de 2019

-MARIO A. F. KOYAMA-



A Pseudoesquerda e a Ultradireita, que eram aliadas, um dia se desentenderam e brigaram feio. A Ultradireita esbofeteou a Pseudoesquerda, cravou-lhe as unhas na cara e nos braços e lhe arrancou os cabelos. A Pseudoesquerda chorou muito. Depois se recompôs, sentou-se num canto e escreveu uma cartinha para a Ultradireita, nos seguintes termos:


“Sei que tivemos muitas dissensões no passado, mas uma força maior nos une. Disputamos juntas a Prefeitura de São Paulo, lembra? Eu não sou a vagabunda que se vendeu ao grande capital, como alardeiam por aí. Nossas irmãs, sim, receberam, todas elas, dois por cento de comissão. Fui a única que não se dobrou ao jogo vil. Fiz de graça. Por isso, em nome de nossa histórica amizade, conto com sua discrição neste meu pedido: dê o golpe! É um favor que você me faz. Todas minhas teses se confirmarão, ficarei bonitinha na fotografia. A História me redimirá sem que eu necessite fazer minha dolorosa autocrítica. E como única portadora da verdade, e detentora do saber do crítico, voltarei a me oferecer a meus eleitores com a alma lavada, na pureza de meus sentimentos. Um hímen novo, recomposto, cuja integridade ninguém poderá questionar, mesmo porque as provas em contrário estão sendo invalidadas! E veja só: se você falhar, minha querida, quem voltará ao poder sou eu... Por isso, lhe peço: dê o golpe! Mas, se você não reunir condições para tanto, ao menos conceda-me este outro favor: destrua o país para mim! Também voltarei ao poder, faceira e triunfante, e saberei, oportunamente, te recompensar. Façamos assim: hoje é você, amanhã sou eu! Vamos nos revezando na partilha das benesses, como boas parceiras que sempre fomos! No momento, estou forçada a um regime de fome, mas com tua ajuda, querida irmã, recuperarei, aos poucos, minhas formas e minhas energias!”.



FIM

 

MARIO A. F. KOYAMA é auditor.



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