- Ibraim Rocha -
Sem imaginar o desastre que seria 2021, em 27 de janeiro de 2020, publiquei na Revista PUB o artigo intitulado “Utopia no Século XXI ?”. No contexto de preocupação com os dados de destruição ambiental, apresentei breve reflexão sobre as remotas possibilidades de se construir um novo destino para a humanidade.
Começando 2021, em 21 de janeiro, publiquei o artigo Colapso Ambiental, Ciência e Democracia, já sob a pandemia do Sars-Covid 19, que permanece como a grande preocupação da humanidade, a mais divulgada pelas mídias sociais, engajando pessoas de forma mais aberta no debate, inclusive com embates violentos, onde extremistas protestam contra a possibilidade de vacinação obrigatória, como na Alemanha. No Brasil, nosso ministro da saúde, na espiral de caos incessante, adiantou a declaração do Bolzo-Herodes de que se “Estão morrendo crianças de 5 a 11 anos para justificar algo emergencial? É pai que decide, em primeiro lugar”, logo não haveria urgência na vacinação de crianças contra a Covid, por não haver mortes suficientes a justificar.
Ao mesmo tempo que continua a disparar suas tolices sobre a Pandemia da Covid-19. o nosso rei louco curte o litoral, sem ligar para as enchentes no sul da Bahia, sem ser importunado com uma verberação à altura de seu descaso com as vidas dos brasileiros, embora tal descaso seja apurado pela CPI da Covid, seja pela grande mídia, ou mesmo nos círculos sociais. Vivemos numa época em que, mais que não olhar para cima, não conseguimos direcionar nossa visão, pois se o genocida consegue a sua tranquilidade de férias no caos, é porque não existem cidadania e indignação suficientes para lhe fazer sentir a garganta coçar.
Na minha reflexão do início de 2021, pincelei sobre caminhos para se construir a utopia, a ciência seria um deles, mas, desta vez, não consegui nem esperar encerrar 2021, pois 2022 somente terá algum valor se for a caminhada para a luta que não se iniciou, com envergadura e à altura do desafio, uma luta que não se apegue às urnas institucionais, que torna a escolher o chuchu como o melhor ingrediente do mercado.
O mais grave em nosso tempo é precisar gritar que o olhar da ciência sobre o ambiente já detectou a incerteza do amanhã e, apesar disso, seguimos com o modelo de consumo diário da natureza. Se podemos fantasiar sobre o dissenso de existir um meteoro assassino de planetas, mais grave do que esse delírio de Hollywood é a revelação do inconsciente coletivo da humanidade: um fracasso civilizacional, como já havia sido fartamente demonstrado na COP 26. Estamos anestesiados pelo discurso do capital de que precisa de tempo para ajustar o green premium, para que as tecnologias verdes sejam tão eficientes que não afetem o lucro do capital e de que, enquanto estas tecnologias não são criadas, a tal urgência climática não passa de uma histeria, uma pauta entre muitas nos debates negacionistas da atualidade, que merece o devido afastamento por parte daqueles que não se envolvem em politica.
Logo, eu não poderia esperar 2022 começar, afinal de contas ele é apenas uma ilusão realista do metaverso zucherberiano da disputa das grandes corporações de mídia digital para a solução do modelo, continuidade não apenas de 2021, mas de todo o ciclo do capitaloceno. onde o futuro da natureza será salvo pela liberdade individual de comprar o acesso as mais belas paisagens do passado, em versão 10G, democratizando o acesso ao bem estar ecossistêmico, que exclui toda forma de discriminação ambiental e reflete normas protetivas dos seres sencientes, no pleno reino da liberdade de mercado.
A humanidade revolucionada pelo exercício da democracia huaweiana, mostra o atraso da hastag #lookup a ser atualizada no caleidoscópio googleano da superação das mudanças climáticas.
IBRAIM ROCHA é membro do Conselho Consultivo do IBAP, Advogado, Mestre em processo civil/UFPA, Doutor em Direitos Humanos e Meio Ambiente/UFPA e Procurador do Estado do Pará.
Excelente texto, Ibraim, acerca da conclusão, nada delirante, de que praticamente se tornou dominante, inclusive sob o ponto de vista da capacidade de destruição física, a ideia segundo a qual o mundo só merecerá ser preservado na medida de sua capacidade de assegurar ao capital a aptidão para produzir frutos substanciosos em prazo curtíssimo.
Muito bom, assertivo e contundente, Ibrahim! Que Deus nos salve de nós!
Não é necessário ser astrólogo para entender o rumo desastroso do meio ambiente e a vida artificializada dos terráqueos que ainda habitarão o planeta e que verão, e se deliciarão, com saudade, paisagens zuckenberguianas em imagens arquivadas e selecionadas do passado, em linguagem de comunicação de elo perdido ... Parabéns, Ibraim!