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Salvar mais vidas, um apelo

Atualizado: 5 de dez. de 2023

-Cássia Navas Alves de Castro-

São Paulo, 8 de março de 2021.


Neste momento sem precedentes em nosso pais, sinto na pele e acompanho a ansiedade das famílias de jovens e crianças cujas deficiências geram comorbidades. Com duas irmãs médicas na linha de frente (SUS e SAMU) e um pai com 84 anos, festejei a decisão de se vacinar os mais idosos e os profissionais da saúde. Foi um acerto que se impôs.


Mas grupos tão e talvez mais expostos e vulneráveis às consequências do coronavírus já deveriam ter sido incluídos nas primeiras fases da vacinação, como os jovens portadores da pouco notificada síndrome de Prader-Willi, um deles aqui ao meu lado, quando escrevo este apelo: milha filha.


Através de uma pesquisa recente, difundida no Fórum Econômico Mundial, ficamos sabendo que no Reino Unido grande parte das mortes por Covid-19 atingiram pessoas com algum tipo de deficiência.


Ainda que saibamos das diferenças entre doença e deficiência (esta tratando-se de uma condição e não de uma doença em si), não podemos ignorar que deficiências podem estar associadas a comorbidades, como a obesidade severa (fruto de questões neurológicas) e os déficits cardíacos/pulmonares graves (fruto de problemas neuromusculares). Tal também acontece no âmbito de certas Doenças Raras e mesmo com a síndrome de Down.




Todos estes fatores impactaram (e impactarão) os números de mortes pela pandemia. No Brasil, estas pessoas contam mais que um milhão e todas continuam sem saber quando receberão a vacina. Pelo cronograma, sabemos somente que serão vacinadas depois dos que tem entre 60 e 64 anos.


E até lá? O que fazer além de acalmar o coração, trabalhar dobrado, pagar impostos, ter esperança, ficar em casa, usar duas máscaras, doar duas cestas básicas por mês para quem tem fome, cuidar do corpo e do espírito de nossos filhos com deficiência?


Isto tudo já não basta!


Com o intuito de mais fazer, segue este apelo para que mandatários, secretários e técnicos sejam informados sobre esta situação. E talvez, por estes argumentos convencidos, lançarem mão, a partir da autonomia de estados e prefeituras, de suas prerrogativas para buscar soluções para estas pessoas, num período que sabemos ser de escassez de vacinas.


Uma destas soluções? Tomo a liberdade de indicar, em conjunto com outros profissionais e famílias: seria a de interpolar estes grupos a outros já previstos nas primeiras etapas da vacinação.


Neste caso não se trata de uma providência a ser obtida por meio de pressão/lobby por privilégios, posto seus motivos serem de absoluta natureza científica e humanitária.


Segue este apelo, com respeito, e pelo qual também aproveito pra agradecer aqueles que, em muitas trincheiras desta guerra (pois é, estamos numa espécie de guerra) lutaram, lutam e lutarão, sem cessar e sem receio, pela vida de tantos, de todos.

 

Cássia Navas Alves de Castro é ensaísta e pesquisadora, professora do Instituto de Artes/UNICAMP e mãe da Clara Castro Arcieri.

 

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