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OS CONDENADOS

-PAULO VELTEN-

-RAYNER MARTINS XAVIER DOSSI-


Frantz Fanon

Frantz Fanon foi um expoente no que se refere ao estudo sobre o colonialismo, por isso, a divulgação de seu livro Os Condenados da Terra, no qual repercute a relação de colono com colonizado, me parece imprescindível em tempos atuais.

Em sua perspectiva, o colonialismo tem como legado a desigualdade, mas também há um legado comportamental, qual seja, a utilização da linguagem da violência como forma de agir, tanto de colonos como de colonizados.

A violência é a pauta da vida das comunidades colonizadas, elas se relacionam com a violência como uma forma de comunicação, seja consigo mesmas, seja com os opressores. Afinal pelas vias legais, a experiência histórica é com a desilusão.


Assim, a oportunidade para viver a vida que não possui, a vida de luxo e fartura dos opressores que almejas, a única solução que lhes apresenta, é a violência, caminho já trilhado pelo seu opressor. Em seu dizer “o olhar que o colonizado é de inveja. Sonhos de posse. Todas as modalidades de posse: sentar-se à mesa do colono, deitar-se no leito do colono, com a mulher deste, se possível” (1979, p. 29).


Ocorre que, está inveja é péssima pois constitui a continuidade colonial, o caminho para se superar o colono é erradicando-o, ou seja, destruir qualquer possibilidade de o colono exercer seu domínio sobre o colonizado.

Esta descoberta é essencial, sem ela, o colonizado nunca se revoltará, afinal haverá uma acomodação com a irritante voz e olhar do colono, uma petrificação quanto a sua presença (p. 34).


O colonizado só pode alterar o paradigma da sua existência quando tomar consciência de si, consciência de que não é diferente do colono. A mudança desse paradigma para Fanon se dá no seio do povo. Ali, nos dentes, como diria Trotski! Não se dá por um evento isolado e individual que se encerra em sua própria subjetividade. A revolução não se encerra no pensamento!


Quando o colonizado se recusa a enxergar sua condição de dominado, ao invés de direcionar sua tensão para o causador do problema, direciona para seus congêneres em um processo de autodestruição coletiva.

É o que acontece por exemplo com o colonizado que atua na força policial colonizadora, ela massacra e avilta ao oprimido a todo momento, direciona sua cólera aos que estão na mesma condição, como forma de exorcizar a sua raiva em um processo suicida e autodestrutivo. Incapaz de mudar a realidade de seus semelhantes age de forma egoística para ocupar o lugar do opressor e esquece ou simplesmente não tem consciência de sua própria condição.


Esse processo autodestrutivo acaba legitimando a conduta violenta por parte do colono e do colonizado, legitima igualmente o uso e a linguagem da violência contra os colonizados, criando guetos de segregação e marginalização, ao custo de duras penas.


Este espaço de violência Fanon denominou como a zona do não-ser e representa o local onde vive a escória da sociedade, são espaços ocupados por pessoas marginalizadas que sofrem todas as mazelas da cultura de violência propagada entre seus congêneres bem como pela violência colonizadora.


A linguagem é o modus operandi violento reproduzem ali uma autodestruição coletiva na qual o oprimido oprime igualmente seus semelhantes, e no qual o desejo do oprimido torna-se ocupar o lugar do opressor e replicar seu comportamento.


Para mudar esse modus operandi, é necessária uma revolução, que não é partidária, é um ato coletivo, não é individualista ou de um grupo, também não se encerra em teorizações, requer ação e engajamento para ocupar os espaços, nesse sentido, ocupar esses espaços significa a erradicação do que oprime, aqui não cabe a coexistência.

Para Fanon a síntese dessa dialética é erradicar a opressão, afinal o colonialismo não cede espaço senão com o machado no pescoço. A violência contra o processo colonial tem um efeito depurador, desintoxicante, para o colonizado. Por outro lado, reproduz o modus operandi colonial.

Franz Fanon foi médico psiquiatra, militante da frente pela libertação nacional durante a guerra da proclamação da independência da Argélia em 1962, foi chefe do Hospital Psiquiátrico e suas experiências e deduções decorrem de perscrutar as almas tanto de torturadores quanto oprimidos, tanto de colonizadores franceses quanto a colonizados argelinos e não de livros somente. Recomendar a leitura de suas obras, nos parece absolutamente imprescindível numa época em que, sempre negadas historicamente, as entranhas do colonialismo talvez nunca estiveram tão expostas com atualmente.

 

PAULO VELTEN é professor de direito na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) escreve em coautoria com RAYNER MARTINS XAVIER DOSSI, um promissor graduando em Direito e Filosofia.


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