-NORMA SUELI PADILHA-
Os livros me fizeram companhia desde menininha, quando a tragédia levou dois de meus irmãos em um acidente terrível, e a dor exilou meus pais no silencio de sua própria angústia de sobrevivência.
Foi a ESCOLA que se tornou meu mundo, a sala de aula com lindos desenhos na parede e com cheiro de tinta guache, era um abrigo de proteção, um ambiente de descobertas de tantas novidades que instigavam minha curiosidade infantil, da companhia de crianças barulhentas, e da presença de uma doce e firme senhora que colocou um lápis na minha mão.
A escola preencheu todo o vazio da ausência inexplicável para uma criança e me abriu um verdadeiro jardim de infância, onde brincar era desenhar cores em um caderno, rabiscar letras em linhas simétricas, misturar números em contas de somar, multiplicar amiguinhos, dividir pequenas travessuras.
Os livros me revelavam histórias de coisas incríveis para uma criança aprender, e me despertavam a curiosidade de cada vez mais saber, e me deslocavam de lugar, me distanciavam do medo, e me faziam acreditar que viver podia ser uma aventura e eu descobri o poder de sonhar, que podia ser um personagem da história, e estar onde minha imaginação me levasse.
Havia sorrisos, diversão e desafio em aprender e havia cuidado e respeito ao meu próprio jeito de ser, quietinha e concentrada, atenta e disciplinada, mas ao mesmo tempo rebelde e atrevida, curiosa e destemida.
Me lembro desta menininha que fui, e ainda hoje sinto o cheiro daquela primeira sala de aula, do giz, da lousa, vejo aquela senhora alta e gentil, acolhedora e bondosa, minha primeira professora, a qual estranhamente não me lembro o nome, talvez por ter sido renovada em tantos outros professores no meu caminho escolar, mas sei que me deixava subir na cadeira para alcançar a lousa e explicar para as outras crianças o que acabara de aprender, como se conhece há tempos o que já pensava saber explicar.
Não sei se esta recordação explica porque jamais me afastei da Escola, dos livros, e desde a Universidade, dediquei meu ofício na prática de ensinar, porque acredito que não há melhor lugar para as crianças e jovens estarem, e que se deve despertar nos alunos a curiosidade de aprender, tudo o que puderem, e de permitir que sonhem em serem o que quiserem.
A Escola deve liberar a mente para voar, para permitir aos corações sonhos que só lá são possíveis de se alcançar. E aqueles que tem o dom de provocar curiosidade e fomentar habilidades, são um apoio insuperável para enfrentar as barreiras dos limites sociais, aliviar as dores emocionais, e na estranha estrada da vida diversificada da história de cada um, são mais que meros apoiadores, eles tem uma missão, são PROFESSORES.
De uma sala de aula, de qualquer lugar, mas onde sempre muito me agrada estar.
NORMA SUELI PADILHA - Autora da obra laureada com o Premio Jabuti 2011 na categoria direito: "Fundamentos Constitucionais do Direito Ambiental Brasileiro". Membro da diretoria da APRODAB - Associação dos Professores de Direito Ambiental no Brasil.
コメント