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Juliana Berlim participa de Roda de Conversa no 23º Congresso do IBAP

- Guilherme Purvin -


Juliana Berlim é autora do conto "Balada de morte do herói" e participará de Roda de Conversa na manhã do dia 29 de novembro, em evento integrante dos "III Diálogos Interdisciplinares - Letras e Direito" e do 23º Congresso Brasileiro de Advocacia Pública.

O 1º Concurso de Contos do IBAP foi aberto a não associados — inclusive profissionais inteiramente distantes do mundo jurídico, já que o objetivo básico deste projeto era fomentar uma produção cultural voltada à reflexão sobre nosso Brasil. Considerando que naquele ano de 2018 o IBAP realizava uma homenagem às mulheres que criaram o projeto Promotoras Legais Populares, e ainda, que um dos temas do congresso daquele ano foi a bioética e os transgênicos, nada mais natural do que a escolha do patrono recaísse no nome da escritora inglesa Mary Shelley, autora de "Frankenstein" e "The Last Man".

Juliana Berlim, professora de Língua Portuguesa e Literaturas do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, é uma das seis mulheres vencedoras do certame literário. Entrevistada para esta série de matérias com os contistas que integrarão o volume "Brasil 2029: Contos Góticos e Pós Apocalípticos", a autora de “A balada de morte do herói” explica que tomou conhecimento do Concurso Mary Shelley pela página chamada “Fantasticursos”, do professor Alexandre Meireles, no Facebook. Trata-se de página muito importante para a difusão do fantasismo no Brasil. Mas havia visto antes o anúncio da PUB na página da escritora Ana Lúcia Merege. Entende Juliana que a Literatura, bem como outros produtos culturais é "combustível para a mudança dos indivíduos; são esses que mudam um país". Por isso ela acredita que a literatura pode ajudar a modificar a situação política do país, desde que ela seja parte de um projeto de educação plena da maioria da população. Nesse sentido, a Literatura seria uma poderosa ferramenta de conscientização: "A literatura sempre se engaja socialmente; uns autores mais, outros menos. Mas é inevitável seu comprometimento sócio-histórico". No entanto, ressalva que o termo "engajamento" a que se refere não tem o sentido sartriano: "Não vejo a intelectualidade tão disposta mais a assumir causas como há tempos atrás".


Pergunto à autora carioca se sabe o que são Advogados Públicos - já que a ONG que patrocinou o concurso e que publicará o livro foi criada por estes profissionais do Direito. Juliana reproduz o mesmo desconhecimento da maioria dos contistas vencedores do concurso, que é por sua vez um reflexo do desconhecimento que há por parte da imensa maioria da população brasileira - por vezes até mesmo de estudantes de Direito - e afirma: "Se eu bem entendo, são procuradores, promotores, desembargadores". É inegável que a estrutura do Poder Judiciário e das quatro funções essenciais à Justiça (Advocacia, Defensoria Pública, Advocacia Pública e Ministério Público), decorridos 31 anos da promulgação da Constituição Federal, continua sendo um mistério para os brasileiros - em boa parte fomentado pelas grandes redes de comunicação. Falando sobre a situação contemporânea no Brasil, Juliana afirma: "Há muita Justiça a ser feita no país, muita reparação histórica a ser feita em um país pobre e negro que negligencia sistematicamente esta parcela majoritária da população, negando-lhe educação pública de qualidade, o que seria um ascensor social para muitos cidadãos. A Advocacia Pública deve tomar para si o compromisso de pensar um Brasil grande e soberano, e não permitir que o país seja uma eterna colônia de países superdesenvolvidos".

A conversa caminha para a análise do processo jurídico-político que culminou com a atual situação sócio-política brasileira e para as recentes lutas sociais desencadeadas no Equador e no Chile. Juliana afirma:


"Lamentável, mas ex-colônias sempre estão sujeitas a crises desta natureza. No Brasil, é o desequilíbrio entre os anseios de uma elite branca encastelada que se insurge contra leves abalos sísmicos nas estruturas de sempre. Mas, observando o cenário político da América do Sul, será um milagre se o Brasil não estiver convulsionado em menos de um ano. Honestamente, acho que estamos sentados sobre um barril de pólvora prestes a explodir".


Leia a seguir os primeiros parágrafos do conto premiado "A Balada de Morte do Herói", que integra a coletânea Brasil 2029: Contos Góticos e Pós Apocalípticos":

 

A balada de morte do herói


Juliana Berlim


— Decidi morrer — disse Cláudio pousando o copo sobre o balcão, engolindo a cerveja a seco.

Nenhuma hesitação. Nenhum lamento. Somente uma decisão cansada nos olhos de peixe morto.

Paulo tentou argumentar, mas ficou tão perplexo que mal articulou palavra. Fazia tempos que Cláudio havia perdido o entusiasmo, remando com força contra o maremoto. Andava muito desapontado consigo mesmo. Por ter sido a vida inteira um idealista ponderado, pautando seus atos na avaliação de todos os agentes envolvidos em uma situação, toda esta malha de escrúpulos que, no Brasil de agora, parecia varrida para debaixo do tapete da História, por isso mesmo encontrava-se mortalmente imóvel. Fora manso e justo em um país que dá milho a banguelas. As lutas dos anos noventa com o movimento dos caras-pintadas, a ressaca moral do neoliberalismo seguinte, a chegada do PT ao poder — o sopro de esperança, até as inúmeras embrulhadas do partido, com a construção de alianças espúrias — levaram, ao fim e ao cabo, à eliminação do último contendor da dita esquerda brasileira. O voto do eleitorado nacional, tradicionalmente conservador, recaiu sobre a trilha da velha “nova política” sobre a qual o país ainda caminhava em 2029. Cláudio estava arrasado.

Ele refizera essa narrativa histórica dezenas de vezes em sua mente. Conversara com Paulo e tantos outros companheiros diversas vezes sobre sua aflição. Via-se sem alternativa. Como um doente terminal dos nervos, faltavam-lhe forças para seguir lutando.. ...................................


 

Agende: 23º Congresso Brasileiro de Advocacia Pública - III Diálogos Interdisciplinares Letras & Direito - São Paulo/SP, dias 28 e 29.11.2019, das 9h às 18h. Serão conferidos certificados aos interessados. Leia aqui a programação e inscreva-se através do e-mail secretaria.ibap@gmail.com.


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