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Onde estamos, para onde vamos?

Atualizado: 5 de dez. de 2023

- Rui Guimarães Vianna -

Lembro-me de minha avó materna, Magdalena, indagando, indignada: “Onde estamos?” A frase encerrava toda sua indignação diante de qualquer situação que ela considerasse inaceitável ou ultrajante. Era um brado cívico, às vezes. E a introdução serve de gancho para que questionemos: Onde estamos? Recentemente, o palhaço-deputado Tiririca afirmou, num rasgo de lucidez e sinceridade totalmente inédito e inesperado, vindo de quem veio: “Eu não votaria em mim.” Assim mesmo. O palhaço alerta, tardiamente, seus eleitores para o fato de que ele não deveria estar onde está. Só chegou lá graças ao auxílio luxuoso de seu vasto eleitorado que, segundo ele mesmo, foi enganado. Onde estamos? De uma tacada, ele confessa ser um incompetente que não merece o cargo que exerce pela segunda vez, recebido através de votações expressivas, e ainda transforma todos os seus eleitores em colegas de trabalho. Palhaços.

São os tempos sombrios que se iniciaram sabe-se lá quando, não arrisco minha reputação em fixar este ou aquele fato histórico como marco inicial da era da mediocridade que vivemos de forma global. Mas aproveito para lembrar que, palhaço que é, Tiririca parafraseou um ilustre ilustríssimo palhaço, Groucho Marx, em fala de um de seus personagens, que confessa lançando um olhar maroto ao seu interlocutor: “Não frequento clubes que me aceitem como sócio.” Muito melhor, né? Afinal, além da frase pioneira, recheada de sarcasmo e humor refinado, temos que considerar tratar-se de um personagem fictício. Não de um deputado federal recém-eleito pela segunda vez. Talvez Tiririca devesse ter se utilizado de outra frase genial de Groucho: “Estes são meus princípios. Se você não gosta deles, tenho outros.”


“Tenho vergonha de ter acreditado nele. É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil.” (Gustavo Bebianno, sobre Jair Bolsonaro)

Pois este é o retrato do inferno em que se transformou o país, sendo cada dia um novo desastre, um novo atentado à inteligência, aos bons costumes, à lógica e a tudo que exale cultura, saber. Bolsonaro e família teriam a coragem de realizar tão devastadora autocrítica em público, como fez o bravo deputado? Muito embora isso não seja necessário, diante das sucessivas e intermináveis demonstrações de sua incompetência e despreparo para estarem onde estão, seria louvável que tivessem a coragem de admitirem ao seu exército de fanáticos seguidores o engodo em que caíram. Afinal de contas, quantos de seus eleitores insistiriam em elegê-los se tivessem a informação prestada recentemente pelo Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, homem de confiança e articulador principal da campanha do nosso palhaço-presidente: Disse ainda muito mais, acerca dos “pimpolhos” da famiglia, em especial Carluxo, como é carinhosamente conhecido.


Mas, como diria nosso Super Ministro de todas as pastas ligadas ao que já chamamos um dia de justiça, o Marreco de Maringá Sérgio Moro, isso não vem ao caso. O que realmente deveria chamar nossa atenção é: Onde estamos? Como chegamos até aqui e, pior, como podemos acreditar em normalidade institucional? Quando o homem de confiança do presidente da república declara publicamente tratar-se de um louco e um perigo para o país que acaba de assumir, tendo em suas mãos várias bombas armadas e prontas para explodir? Quando esse mesmo presidente se apresenta para foto juntamente com parte de seu ministério trajado como um adolescente arrancado da cama pela mãe às quatro da tarde em plena terça feira?


A verdade que, levados pelo turbilhão de notícias que seriam totalmente inacreditáveis, não fosse o fato de serem verdadeiras, numa sucessão vertiginosa e doentia, passamos a normalizar tudo. Trezentos e tantos mortos em um crime hediondo ambiental, sem punição nem solução, normal. É da atividade. Jovem assassinado cruelmente por um segurança em um supermercado no Rio, com requintes de sadismo, normal. Acontece. Dez jovens atletas morrem carbonizados em alojamento improvisado de um dos maiores clubes brasileiros de futebol. Normal. Deputado apresenta projeto de lei que obriga a doação de órgãos de pessoas que, pretensamente, teriam falecido em confrontos com a polícia ou em situação evidente de crime. Normal. Normal. Normal. Até quando?


A lista seria interminável, enfadonha, irritante. Sim, irritante, pois apesar da situação insustentável, seguimos em frente, por falta de opção ou por inércia. De que adianta nesse momento a sinceridade suicida do palhaço-deputado, ou o desmascaramento da famiglia imperial, se a capacidade de reação da sociedade está embotada, mantendo todos dentro de redomas à prova de indignação? Fazendo a última paráfrase, volto a perguntar: Onde estamos? Para onde vamos? E me sirvo do grupo de rock AC/DC: We’re on the highway to hell. Só pode ser.

 

Rui Guimarães Vianna - Aposentado, torcedor do Santos F.C.


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