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A batalha de Vini Jr.

-IBRAIM ROCHA-




Arte - Aloisio Van Acker

As Arenas de Futebol da Espanha substituíram o gosto de certos torcerdores órfãos de Francisco Franco do sangue das touradas pelo apetite do desprezo pela dignidade humana. Uma arena torna próximo o som da turba como uma corda de som única, essa vibração deveria ressoar somente a alegria ou tristeza da disputa esportiva, espelhada no suor dos atletas de alto nível que cruzam o gramado.


Este cenário é que tornam mais infames as ações racistas contra Vini Jr , um jogador com origem em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, um brasileiro, que, apesar de sua juventude, mostra ter a fibra de um homem maduro na defesa dos seus princípios e claramente não luta apenas por ser vítima do racismo, mas para que ninguém mais o seja no seu esporte, o que, evidente, só pode acontecer se houver ação concreta contra os infames racistas.

O último evento, deprimente, que encerrou com a expulsão do atleta e a controvérsia que seguiu, revela como existe uma “naturalidade” em procurar subterfúgios para diminuir a gravidade da ofensa, e, ainda se procura esticar ao máximo a versão de que a reação do ofendido não tem proporcionalidade com o evento ou que serviria de combustível aos ataques racistas.

As touradas tem como regra de que o Touro deve sair morto da Arena, é uma norma para assegurar de que só assim o espectador tem o círculo completo do espetáculo tragédia, mas no futebol encontraram um jovem que não aceita ser o Touro, e nem o toureiro, que apesar da roupa galante, é apenas um carrasco a atender o desejo de sangue da turba, ele é sim um negro brasileiro que constrói um esporte para a real alegria, com garra e a luz da dignidade, para debelar o gosto de sangue que ainda lateja nas arenas espanholas.

 

IBRAIM ROCHA é Procurador do Estado do Pará, Doutor em Direito (UFPA) e membro do Conselho Consultivo do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública.





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1 comentario


Ricardo Antonio Camargo
Ricardo Antonio Camargo
25 may 2023

Excelente observação, Ibraim, sobretudo diante de alguns tristes pronunciamentos (poucos, felizmente), mesmo no âmbito acadêmico, no sentido de que se trataria de um "incidente menor que não autorizaria tornar-se uma questão diplomática" (assassinatos racialistas normalmente são precedidos de insultos desta natureza, é bom lembrar) ou ainda de um parlamentar que conspurcou o Senado ao dizer que o Vini Jr. tinha de ser defendido por entidades engajadas na defesa de animais.

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