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O PACIENTE ZERO

Atualizado: 5 de dez. de 2023

-RUI VIANNA-


Paciente Zero foi um conceito criado para identificar o vetor inicial de uma doença epidêmica. Aquele que teria sido o primeiro a ser contaminado por uma enfermidade, disseminando-a. Ao que se sabe, tal conceito foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos, em meio à epidemia de AIDS iniciada nos anos 1980. De forma totalmente errônea, Gaëtan Dugas, um comissário de bordo franco-canadense, veio a ser relacionado ao conceito de paciente zero da terrível enfermidade, inclusive através de livro escrito por um jornalista americano em 1987, Randy Shilts, que caracterizou Dugas como um sociopata pervertido. Mais tarde descobriu-se que a associação criada não passou de um equívoco irresponsável e mundano. Mas já era tarde. Dugas já havia falecido, vítima da doença, assim como Randy Shilts, falecido em 1994.


As consequências de leviandade com que foi tratado o assunto foram especialmente cruéis para a memória de Dugas e seus familiares, que durante muito tempo foram relacionados a este trágico evento. Até a realização de nova pesquisa realizada com vários pacientes infectados pela AIDS, onde se estabeleceu a realidade dos fatos, e que eram muito diversos dessa versão, viesse a reabilitá-los.


Desse episódio, pretendo aproveitar dois conceitos fundamentais ligados à nossa atual realidade: a do Paciente Zero e o de Realidade dos Fatos.


Advirto axs leitorxs que não se trata, em absoluto, de pesquisa científica baseada em estudos orientados por parâmetros rígidos e métodos internacionalmente estabelecidos. Prefiro que seja tratada apenas como curiosidade sociológica (ou arqueológica, que seja), ou ainda uma digressão delirante acerca de um tema palpitante. Quem seria o paciente zero da epidemia de ódio, ignorância e mentiras que podemos chamar de Bozohisteria?


Um mínimo de método deve ser exigido quando pretendemos chegar a tão importante descoberta. Portanto devemos partir, obviamente, do agente causador dessa epidemia. Identificá-lo e dissecá-lo em sua forma de atuação no organismo humano.


Esse é o passo mais simples da pesquisa. Se tratamos de Bozohisteria, nada mais lógico do que partirmos do estudo de Bozonabo, cujo nome científico é Salnorabus Aureus Militaris.


Estudos indicam que esse agente patogênico permaneceu inerte e em suspensão por décadas, manifestando-se esporadicamente em ocasiões esparsas, através de erupções cutâneas facilmente elimináveis com assepsia e informação adequadas.

A literatura especializada nos revela que a primeira manifestação significativa dessa enfermidade que se teve notícia, deu-se em 1987, através de um plano arquitetado por Bozonabo para explodir bombas nos banheiros da Vila Militar. O objetivo da manifestação patogênica seria obter aumento do soldo dos militares à época. A ocorrência foi exposta da Revista Científica Veja, com detalhes fartos e grotescos. Estava estabelecido um padrão de atuação do agente infeccioso.


Como também revelam pesquisas efetuadas nos meios de comunicação da época, a terapia utilizada no caso para erradicação do Salnorabus Aureus Militaris foi não só insuficiente como meramente paliativa. Tendo sido isolado pela aplicação de transferência ao módulo Reserva, permaneceu mais uma vez inerte, porém perene.

Sua próxima manifestação deu-se em campo totalmente diverso da primeira, demonstrando uma perigosa mutação na espécie. No ano de 1989 foi identificada inicialmente essa nova cepa, quando adentrou o ambiente da Câmara Municipal da cidade do Rio de Janeiro. Era o Salnorabus Aureus Politicus.


Como dito anteriormente, esse espécimen permaneceu praticamente inerte por décadas, protagonizando manifestações tanto insignificantes quanto proporcionalmente inofensivas. Seu efeito deletério foi sendo eficientemente controlado através da aplicação combinada do Estado de Direito e da atuação Democrática Institucional e Republicana.


Não se sabe muito bem (as origens da associação são obscuras e incertas) o momento em que houve a fusão a outro patógeno de altíssima letalidade e disseminação, mas sabe-se que se tornou decisivo para o surgimento da atual epidemia ora objeto desse ensaio. Esse conhecido cientificamente como Olavensis Virginianus Stupidensis. A partir da descoberta da fusão desses dois microrganismos, a pesquisa tomou novos rumos e perspectivas.


Apresentada a origem dos agentes patogênicos, em breve explanação sobre seus efeitos iniciais, cabe agora identificar o Paciente Zero. Paciente Zero Estabelecemos acima uma base para o procedimento necessário à busca do paciente zero da Bozohisteria, epidemia que acomete parte considerável da população brasileira em período recente estabelecido na literatura médico-científica.


Alerto, mais uma vez, para o caráter anticientífico e despretensioso do presente texto, ressaltando seu interesse mundano e momentoso acerca de noticiada infestação (ou seria infecção?), tendo a intenção claramente terapêutica do próprio autor e, quem sabe, daqueles que o compartilharem.


Como sabido, a nova superbactéria (sim, apesar de inicialmente se tratar de um fungo, o organismo superveniente resultou em uma evolução de muito maior poder letal) veio a ser denominada Ultra Stupidensis Aureus (USA), sendo identificada de forma indiscriminada em diversos pacientes.


Tal fato veio a dificultar sobremaneira o trajeto percorrido pela superbactéria até a infestação do paciente zero. Partimos, eu e minha equipe, de dados empíricos e suposições atiladas, mais do que qualquer outro dado técnico. Peço escusas pelo aparente amadorismo do estudo, mas isso já estava exposto no tomo anterior, assim como no presente.


Temo revelar que não há resultado conclusivo quanto ao repisado paciente, mesmo que indícios fortes apontem para este ou aquele. Como exposto no artigo anterior, os resultados de divulgação descuidada é totalmente pernicioso, podendo expor pessoas e suas famílias à execração pública de forma indevida e criminosa.


Mas, em vista do objeto de presente estudo, não poderemos nos furtar a cumprir a tarefa proposta. Então, vamos a ela.


Por uma questão de exposição, vários indivíduos se sobressaem em indícios fortíssimos de contaminação. O primeiro a chamar a atenção foi Frederico Micostatino, hoje residindo nos Estados Unidos. Como se sabe, sobrevive entre os estadunidenses em subempregos esporádicos, fazendo imitações do Pateta.


Nascido em julho de 1976, esteve sujeito desde tenra idade ao (agora se sabe) fungo Salnorabus Aureus Politicus , por proximidade geográfica, o que não pode ser excluído como fator determinante. Entre diversos outros sintomas, assinale-se ter sido presidente do Instituto Liberal e um dos fundadores do Instituto Millenium. Foi também exposto precocemente ao Olavensis Virginianus Stupidensis, assumindo comportamento claramente suspeito de comprometimento das funções cerebrais e motoras, tais como risos nervosos extemporâneos e discurso delirante e desconexo. Consta ainda ter se curado de eventual infecção da USA, ao discordar publicamente da existência do superorganismo (confira-se aqui e aqui). Foi temporariamente descartado como provável eleito.


Há também o caso do pequeno Daltenziño. Desde sua infância superprotegida na provinciana e acanhada Marreco Alvo, cercado pelo ambiente asséptico da igreja baptista e da família tradicional paranaense, respirou desde os primórdios o Estado de Direito, através do pai Agenor, procurador da República, e o conservadorismo mais ferrenho. Consta ter se desenvolvido através de uma infância normal, soltando pipa no ventilador e rodando pião no carpete. Tornou-se, como esperado, um menino gênio pernóstico e descolado da realidade.


Não há qualquer indicação de que tenha sido exposto a um dos dois patógenos citados, seja na tenra idade ou depois dela. Porém, ao assumir cargo de destaque em atividade antijurídica, passou a exibir sintomas claros, tais como ambição desmedida, discurso moralista e moralizante e tendências autoritárias despóticas. Conta ainda com exposição direta à prática de atividade evangélica e aversão ao Estado de Direito. Permanece como possibilidade.


O próximo suspeito é Néscio Morando Noro, coincidentemente egresso do Paraná da igualmente provinciana Moringó. Vem sendo exposto ao agente infeccioso há longo período, sendo que apresenta sintomática típica de estágio desenvolvido da doença. Carreirismo, autoritarismo, fobia exacerbada e furiosa ao Estado de Direito, desvios éticos e comportamentais acentuados pela soberba intelectual. A egolatria e a ignorância também estão presentes. Um novo sintoma vem sendo observado, que é a subserviência e o masoquismo.


Permanece como objeto do estudo, tendo em vista a proximidade e exposição constante aos dois principais fatores de risco.


Há uma terceira vertente da pesquisa, que busca o paciente zero entre membros de menor visibilidade na comunidade científica, a assim chamada gente do povo. Os sintomas estão espalhados em todos os quadrantes, de norte a sul leste oeste. Notaram-se sinais claros de indivíduos infectados, e buscou-se remontar a origem e o momento da contaminação.


Caso exponencial do estudo é a senhora Mirtes de Noronha Infante (nome fictício, visando proteger a real identidade), moradora de Xanxerê, Santa Catarina. De tradicional família católica, apostólica, romana, fundadora da cidade e participante da política local há pelo menos 10 gerações, e grande proprietária de terras (utilizadas na plantação de milho e soja, através de agricultura intensiva).


Os primeiros sinais de contaminação deram-se por volta do ano de 2013. Em entrevistas de campo realizadas por pesquisadores, descobriu-se que Mirtes veio a adotar comportamento extravagante e agressivo, chamando atenção de todos que a cercavam. Primeiramente, converteu-se à Igreja Quadrangular do Décimo Quinto Dia, de orientação evangélico-quântica, professando a volta do Messias em futuro breve e caótico. Tal atitude foi vista com grande preocupação, obviamente, pela família e círculo social próximo.


Em pouco tempo, fundou um núcleo de estudos filosóficos de Anacleto Rasputin, astrólogo e totem autodidata, cujo discurso prega o terraplanismo, a desconstrução a teoria de Newton, o anticomunismo doentio, responsabilizar vacinas pela ocorrência de autismo e outras sandices indizíveis. Arregimentou na pequena Xanxerê vários adeptos e seguidores, transformando as sessões de leitura e discussões dos textos do Mestre em rituais orgiásticos.


Foi definitivamente diagnosticada como infectada ao defender em praça pública “ Intervenção Militar Constitucional (art. 142 CF)” , enrolada em uma bandeira do Brasil e vestida apenas com uma camiseta da seleção brasileira, sob uma temperatura de -2 graus Celsius.


A conclusão do estudo aproxima-se, enfim, de um epílogo.


Obs: A contraface deste artigo é "Parar de chover desde os primeiros erros"


 

RUI VIANNA não é pesquisador científico nem pretende. Já foi procurador da CEF, mas hoje escreve todos dias 11 e 29 de cada mês.


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