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Pensar e repensar a América Latina

Atualizado: 5 de dez. de 2023

-Júlio César Suzuki-



A oportunidade de participar da organização do III Simpósio Internacional Pensar e Repensar a América Latina e do I Congresso Internacional Pensamento e Pesquisa sobre a América Latina, entre 6 e 10 de maio de 2019, na Universidade de São Paulo, permitiu buscar relações fundamentais para a discussão do momento atual da região, particularmente no concerne ao campo político e dos direitos fundamentais: sociais, políticos, culturais, econômicos e ambientais.


A complexidade compreensiva da América Latina requer a articulação de saberes disciplinares rumo a inter e a transdisciplinaridade, em suas dimensões política, ambiental, social, cultural e econômica, aproximando-se do universo cosmogônico de que fazem parte os povos da região, conforme nos falava Orlando Fals Borda.


Um mundo marcado por subalternidades, exclusões e invisibilidades, definidoras de uma sociedade oligárquica, desigual e autoritária, em que a ruralidade está na base da formação do moderno e da modernidade, tal qual nos assegura José de Souza Martins.

As sociabilidades dos homens simples são forjadas no contexto da extrema concentração da riqueza, em que o estancamento das perdas está sempre requerendo o confronto e a luta, no campo e na cidade, nos grandes centros e nas pequenas aglomerações, em formas diversas de existência social, como a de indígenas, ribeirinhos, palenqueiros, camponeses, mendigos, desempregados: minorias sociais cujas dificuldades de reprodução material e imaterial se assemelham às de outros grupos que, ainda que numericamente conformem maiorias, são subalternizadas, como os empobrecidos e as mulheres da América Latina.


Propostas que se encaminhavam para a busca da construção do Estado de Bem-Estar Social foram bruscamente abandonadas, em muitos de nossos países, na busca dos governos darem respostas ao mercado e, particularmente, ao sistema financeiro. É preciso retomar ao sentido da construção da humanidade no respeito ao direito à diferença. É preciso aprofundar o diálogo entre os países empobrecidos pelas lógicas internacionais de comercialização das mercadorias, em que a tentativa de mantê-los apenas como fornecedores de commodities é sempre reiterada por ações imperialistas norte-americanas na região.


Particularmente no que se refere ao Brasil, é fundamental que sejam valorizados os laços entre os irmãos latino-americanos, com saberes e práticas que os aproximam, afastando forças que tentam nos impelir ao conflito internacional, em que pese a lembrança de que há mais de um século o Brasil não participa de um conflito bélico internacional com os vizinhos da América Latina. O sonho de uma América Latina unida não pode ser esquecido ou esmagado.


É no reconhecimento de nossa diversidade cultural e ambiental tão marcante que reside nossa maior riqueza e potência. Ao olharmos mais para os nossos, inclusive no que concerne à produção de alimentos, com foco mais no que nutrem nossos conterrâneos que para o mercado internacional, é que será possível alcançar a segurança alimentar na América Latina.


Se o Brasil havia saído do mapa da fome no mundo, retorna, com força, o perigo de novamente termos vidas e sonhos ceifados. Vislumbra-se o retorno às condições sociais e econômicas de meados do século XX, em que o direito à Saúde e à Educação era privilégio de poucos, num mar de mortes e analfabetismo. A taxa de mortalidade infantil, em 1940, era de 146 por mil, tendo sido reduzida para, aproximadamente, 14 por mil em 2014. Este dado serve para indicar uma das importantes conquistas que estão em perigo de refluxo.


É contra as perdas de direitos sociais, culturais e ambientais que devemos sempre lutar, pois é na nossa diversidade social, cultural e ambiental que reside a fortuna da América Latina.


É preciso voltar ao direito universal de sonhar um mundo melhor e de viver as conquistas de cada dia!


 

Júlio César Suzuki é Professor Doutor II da Universidade de São Paulo e do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Integração da América Latina (PROLAM/USP).


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